Entender Deus é possível? Sim, agora sei que é. Depois que me despi de minha religiosidade e me permiti ver Deus mais semelhante ao homem, mais próximo da minha realidade. Depois que percebi que o céu e o inferno não estão tão longe assim. Parece que acordei mais próximo à esta realidade. E só quem destrói a fortaleza religiosa que mais confunde que explica, começa a entendê-lo assim.
Estava já morta a minha adolescência, má e abominável,e entrava na juventude, quanto mais velho em idade, tanto mais abjecto em futilidade, de tal modo que não me era possível conceber uma substância a não ser aquela que se costuma ver com estes olhos do corpo. Não te imaginava, meu Deus, sob a forma de um corpo humano, desde que comecei a ouvir falar de filosofia; sempre evitei isso e alegrava-me por ter encontrado a mesma maneira de ver na fé da nossa mãe espiritual, a tua Igreja católica; mas não me ocorria outra coisa que pudesse conceber acerca de ti. E, sendo eu homem – e que homem! – esforçava-me por te conceber como supremo, único e verdadeiro Deus, e, com todo o meu ser, acreditava que tu és incorruptível, e inviolável, e imutável, porque, não sabendo por que razão nem por que modo, no entanto via claramente e estava certo de que aquilo que é corruptível é inferior àquilo que não é corruptível, e aquilo que é inviolável, sem qualquer hesitação eu punha-o antes do que é violável, e que o que não está sujeito a nenhuma espécie de mudança é superior àquilo que pode sofrer mudança.
Clamava violentamente o meu coração contra todos estes meus fantasmas e, com um único golpe, esforçava-me por afugentar da visão do meu espírito o bando da imundície que esvoaçava em torno de mim: e que, mal era rechaçado, num abrir e fechar de olhos, de novo aglomerado, logo voltava e se precipitava sobre o meu semblante e o obnubilava. Deste modo, embora não te concebesse sob a forma de um corpo humano, era todavia levado a conceber alguma coisa de corpóreo espalhado pelos espaços, quer imanente ao mundo, quer difuso para além do mundo, pelo infinito, e que fosse justamente isso o incorruptível, e o inviolável, e o imutável que eu antepunha ao corruptível, e ao violável, e ao mutável; porque tudo aquilo que eu privava de tais espaços parecia-me ser o nada, mas o nada absoluto, nem mesmo o vazio, como quando se tira um corpo de um lugar e fica o lugar esvaziado de qualquer corpo, seja ele da terra, da água, do ar ou do céu, mas todavia há um lugar vazio, como se fosse um ‘nada espaçoso’.
Santo agostinho
Paz e prosperidade a todos
E ai Rapaz belezinha? espero que sim.
ResponderExcluirGostaria de saber de qual obra foi retirado este texto.
Paz a todos!
Cleber Nascimento
Olá, meu caro.
ExcluirConfissões, Santo Agostinho.
Abs