Hoje estamos inaugurando no blog, uma via de entrevistas com pastores, teólogos e pensadores livres, de certa maneira inconformados com os rumos da igreja no Brasil, mas esperançosos em uma mudança de mente daqueles que amam a Deus capaz de influenciar pessoas, famílias e a sociedade em que vivemos trazendo mais tolerância, amor e piedade frutos do amor do Pai e da graça de seu Filho.
A primeira entrevista foi realizada com o Claudio Pinto, Pr da
Igreja Cristã da Família, que gentilmente atendeu nosso convite e respondeu de forma pessoal e esclarecedora à questões pertinentes ao Reino. Segue abaixo a entrevista:
Leonardo – Você enxerga a possibilidade de uma grande
reforma no cristianismo brasileiro?
Claudio Pinto – Pelo rumo que as coisas estão
tomando e pela reação recente e pouco equilibrada dos líderes que teriam voz,
representatividade e credibilidade para se posicionar em resposta aos exageros
e desvios doutrinários atuais, infelizmente não enxergo nenhuma possibilidade em
curto prazo. Creio que seria preciso antes um mover do tipo de uma grande
perseguição da igreja, para que todos tivessem que, sob ameaça, parar, pensar e
se unir em torno do bem e de uma causa comum, se recompondo espiritualmente.
Para que haja uma grande reforma na igreja cristã brasileira, seria preciso
realmente antes haver um grande abalo ou comoção para que a comodidade de todos
fosse ameaçada. Teria que primeiro ocorrer um fato novo que forçasse a unidade,
quebrando o orgulho e pondo em risco os interesses pessoais e particulares, para
que a igreja fosse repensada como instituição e tivesse suas doutrinas e seus
caminhos restabelecidos na rota certa.
Leonardo – Por que é tão difícil, em sua
opinião, afastar-se da ideia de um Deus 100% provedor?
Claudio Pinto – A ideia de um Deus provedor do qual
todos fossemos totalmente dependentes, a meu ver é boa. O problema é que o neopentecostalismo
fez da chamada provisão para as carências diárias, a base da doutrina da
determinação ou da prosperidade, que leva o crente atual a buscar de Deus
riquezas e bem estar, os quais a Bíblia não anuncia aos seguidores de Jesus.
Hoje quando se fala em Jeová-Jiré se pensa em riquezas, regalo e abundância de
bens materiais e não em simples provisão.
Para um povo adestrado a se considerar
como filhos do rei, e, portanto, com direitos adquiridos para ter o melhor
desta vida, é muito difícil reintroduzir a orientação bíblica de que tendo com
que nos cobrirmos e nos vestirmos nos demos por satisfeitos. Muitos alegam que
vivem pela fé, ou seja, no “compre que o Senhor proverá os meios para pagamento”,
como é dito, soltam um cheque sem fundo pela fé, e o gerente do banco o devolve
por falta de fé. Essas práticas ensinadas hoje por algumas denominações tornam
difícil a ideia de se afastar de um Deus que seja 100% provedor, não no
espiritual, mas na vida material.
Leonardo – A operação de milagres nestas igrejas
pentecostais dificulta a compreensão de Deus?
Claudio Pinto – Sem dúvida alguma. Jesus veio
anunciar o arrependimento, pois era chegado o Reino de Deus, trazendo a
libertação dos cativos e abrindo a porta de prisão aos presos. Essa boa nova
tinha como consequência a vida eterna aos que cressem. Como muitos queriam ver
o Reino, Jesus curava e libertava a muitos para mostrar que o Reino chegava com
poder e virtude. Porém, muitos passaram a fazer desses sinais a essência do Evangelho
de Jesus. Quantos viram Jesus operar milagres e quantos seguiram Jesus ao
final? Na verdade, os enfermos se contentavam em receber a cura sem entender em
absoluto o que aquilo significava. Poucos foram como o leproso, que, curado,
voltou para buscar a Jesus e dar glória a Deus pelo milagre recebido. Se o
propósito de Jesus fosse o de curar doentes, ele estaria até hoje, trabalhando
em tempo integral na Terra tendo uma imensidão de seguidores em busca da cura e
provavelmente tendo pouquíssimo tempo para anunciar as verdades do Evangelho. A
cura do corpo deve proporcionar a cura da alma, para que esta em plena sanidade
possa ter os olhos do entendimento abertos para que possa chegar à salvação e à
vida eterna. Os milagres sem entendimento produzem seguidores dependentes e não
discípulos atuantes.
Leonardo – Qual deve ser o maior objetivo do cristão:
céu ou caráter?
Claudio Pinto – Na verdade, eu não colocaria apenas
essas duas opções como sendo as mais importantes nos objetivos do cristão. Mas
nos atendo somente a ambas, creio que quem quiser alcançar o céu, sem dúvida
deve antes passar por um tratamento de caráter que inclui: o novo nascimento, o
ser uma nova criatura e a posterior transformação da mente e do espírito dos
sentidos, para que possa alcançar vida eterna. O Evangelho de Jesus é em verdade
transformador, por isso começa por conclamar ao arrependimento, para uma
mudança de vida e de atitudes por parte daquele que almeja o céu. Todo o crente
almeja um dia chegar ao céu e à eternidade, sem dúvida, mas tudo começa com a
mudança de caráter da velha criatura para a nova que é formada em verdadeira
justiça e santidade. Daí se pode concluir que se o mais importante objetivo é o
céu, chegaremos a ele através do nosso caráter renovado, que não seria o maior
objetivo, mas um desafio tremendo a ser enfrentado e vencido em uma vida
piedosa e de santidade.
Leonardo – Qual seria o seu ideal de comunidade
evangélica?
Claudio Pinto – Em nossa igreja temos como Missão o
“formar uma comunidade acolhedora e alegre, com famílias ordenadas e vidas
integradas, em relacionamentos construtivos”, dentre outros tópicos. Dentro dessa
visão, creio que algo importantíssimo em uma comunidade cristã seria a plena comunhão
entre seus membros, pois, através de um bom relacionamento interno, teríamos
ocasião de suprir as nossas necessidades domésticas e ainda traçar planos mais
abrangentes objetivando alcançar e envolver a sociedade externamente, com o
intuito de transformá-la. Uma comunidade evangélica ideal, a meu ver, deve ter
como objetivo, além de tentar alcançar tudo aquilo que a Bíblia recomenda no
âmbito espiritual, o firme propósito de transformação da sociedade, através de
ações que a sensibilizem, não sendo vista como um organismo estranho ao meio
dela, mas como uma instituição propícia e frutuosa plantada em benefício de
todos na localidade. Uma igreja espiritual e com ações sociais seria, a meu ver,
a ideal.
Leonardo – Qual a sua esperança a respeito do
envolvimento da igreja com o estado nos próximos anos?
Claudio Pinto – Historicamente o
envolvimento estado-igreja tem se mostrado nefasto. Além disso, a fama dos
políticos no Brasil está muito prejudicada, o mesmo ocorrendo também com muitos
líderes religiosos, até mesmo pelo contato que exercem hoje. Para esse trato
ser frutífero, precisaríamos antes de um avivamento verdadeiro e de uma
renovação espiritual na igreja atual, a qual, pelas virtudes do Espírito Santo,
pudesse influenciar de início a vida de muitos de seus ministros, em especial
os com vocação pública, e estes, sendo renovados no espírito, poderem alterar a
vida e os costumes seculares, trazendo benefícios de caráter moral ao estado, à
política e a toda a nação. Confesso,
porém, que diante do quadro atual no qual os evangélicos, via de regra, entram
na política e ao invés de alterar os costumes e influenciar nas práticas
vigentes no meio, melhorando os relacionamentos e as ações praticadas, acabam
eles por se converterem a políticos, e isto no sentido mais nefasto da palavra,
muitas vezes se descredibilizando e envolvendo a fé. No atual modelo praticado por ambas as partes,
igreja e estado, tenho que revelar que a minha esperança neste envolvimento não
só é mínima como é pessimista, mas pela fé creio que Deus é poderoso para mudar
as coisas para melhor, desde que nós estejamos na mesma disposição de sermos
mudados. Como diz Frank Durek: “O homem não resiste a mudanças, mas resiste a
ser mudado”.
Espero seu comentário, crítica ou sugestão a respeito dos assuntos abordados. Sua contribuição é muito importante! Em breve uma nova entrevista!
Paz e prosperidade a todos!